EU, ALENTEJO...
Gosto dos Alentejanos porque são meus, porque são fortes, porque são calorosos na sua irrequieta quietude. Pertencem-me de corpo e alma estas gentes tão dispersas, de tanta resistência provada no tempo, ao vento, ao sol que me incendeia em tempo de Verão. Gosto deles porque me aceitam como sou, plano e montanhoso, árido e chuvoso. Gosto dos rios, ribeiras e regatos que me rasgam e de entre todos estes adoro o meu menino de oiro, o Guadiana de reflexos de prata quando o sol que tanto me acompanha lhe afaga a superfície. Gosto do peixe que salta do seu ventre aquoso para me ver, me experimentar, provar. Amo cada pedra que me compõe, cada grão de terra que em mim tenho. Todas as flores que dou na primavera parecem-se com uma dádiva do Universo, de Deus. Amo o meu cheiro a mentrasto exposto à humidade e ao calor. Amo os homens e mulheres que me habitam mesmo que não tenham nascido em mim. Nunca demora muito tempo para também eles me pertencerem, por mim se apaixonarem como acontece aos pintores, poetas e escritores.
Decidiram fazer em mim, um enorme lago, uma barragem. Não me importei, gostei! É lindo, como são lindas as crianças que nas suas (também minhas) margens brincam, enchendo de salpicos o seu pequeno coração e cavando covinhas de sorrisos, risos e momentos de ternura e felicidade nas suas caritas despidas de malícia. Por vezes, quando o meu companheiro sol se mostra tórrido, peço ao vento meu amigo que as acaricie com uma brisa, que as alivie do sofrimento mordente do astro-rei. Gostava de roubar a estas crianças o sofrimento que acompanha sempre quem sofre da "doença" de ser sensível.
Sei que estas mulheres e homens me criticam muito, mas eu perdoo-lhes. Compreendo o seu desconforto pelo calor, pelo frio cortante, por o que fazem e não fazem outros homens que não são meus e que pouca ou nenhuma importância me atribuem. Mas que me importa? Eu sou dos meus e eles são de mim. Nascidos e criados ou adoptados. Conheço-os a todos, os que me tratam e os que me maltratam. Sei que quando é preciso todos me defendem com unhas e dentes dos ataques de quem não é ou não quer pertencer a mim. A mim, Alentejo de prosa longa e curta poesia. A mim, cheio de cores e odores, de danças e amores, de músicas dolentes e cantadores, de saias mais rápidas e tocadores. A mim que tenho esculpido em todo o meu Ser, esculturas feitas por um Deus Maior e outras de maceta e cinzel. Estas, as últimas, foram-lhes inspiradas por mim, que nunca estou adormecido; eu que estou sempre de olho nos meus, nos que me observam com sentimento. Os outros apenas passam por mim sem me ver ou tocar.
Por tudo isto, este pequeno trecho é dedicado a quem me ama a mim, O Alentejo.
Como sou uma das que ama o Alentejo quero agradecer-te a dedicatória!
Eu por aqui (como única alentejana a viver nesta cidade)bem tento salientar as virtudes da nossa terra mas são poucos os que a conhecem profundamente, a maior parte pensa que o Alentejo é uma terra árida e quente onde predomina o castanho...