São Judas Iscariotes

in "O Evangelho Segundo o Filho" de Norman Mailer .
Quem se lembraria de Jesus Cristo se não fosse a sua entrega, o seu sacrifício ao morrer na cruz (coisa em que os Cavaleiros Templários nunca acreditaram, daí darem tão pouca importância ao crucifixo)? Quem nos proporcionou então esta lembrança senão Judas, o injustamente apelidado de traidor. Ao que tudo indica, quando Jesus o escolheu como Apóstolo já sabia qual iria ser a sua missão no interior do seu ministério. Não será no mínimo curioso que fosse Judas a guardar o dinheiro e a distribuir as esmolas aos indigentes? E tudo isto com o óbvio acórdão de Jesus. Quando este último lhe diz: Vai e faz o que tens de fazer, não está o próprio Cristo a ordenar-lhe/lembrar-lhe qual é a sua ingrata missão? As Igrejas dizem: Tudo estava nos planos do Pai. Assim sendo, se ele cumpria o plano Divino como pode ter sido um traidor? Quando muito seria uma marioneta nos fios tecidos do espaço/tempo da Divindade. Hoje, expressões como:És um Judas (um traidor)! ou Don't you Judas me! (em inglês: Não me traias!).
Pela minha parte confesso que sempre considerei Judas Iscariotes como um Apóstolo como os outros ou até mais importante. De todos, é o único a não ser chamado Santo, é apenas o Judas, o vil, o traidor, o que nem merecia ter nascido, etc.
De repente surge um testemunho de que Judas seria um grande amigo e confidente de Jesus, e por isso alguém que nunca mereceu este tratamento histórico. Sabemos que não será este documento ou qualquer outro que irá mudar o que está enraízado há quase 2000 anos. Judas Iscariotes será sempre o que não presta mesmo que a Igreja o recuperasse (o que por certo nunca fará).
A título de exemplo veja-se a actual oração do Pai Nosso (coitadinha, tão adulterada do original que se encontra em Jerusalém e que se inicia com: Pai, Mãe...). Esta oração, a mais importante no catolicismo romano foi alterada aquando do Concílio Vaticano II (convocado pelo Papa João XXIII e terminado durante o pontificado do Papa Paulo VI). A alteração incidiu na frase: ...E não nos deixes cair em tentação... que passou a ...E não nos submetas à tentação.... Alguém tem conhecimento de alguma vez ter ouvido um padre durante uma missa falar desta alteração? Claro que não! Há que manter o status quo, fazer o menos ondas possível para que o lodo não apareça à superfície. Para mim, com manuscritos ou sem eles, o Santo Judas Iscariotes permanecerá desta forma para sempre.
A facilidade com que o Ser Humano separa o trigo do joio, ou seja, como consegue ver apenas o que lhe interessa no outro que são por norma as qualidades negativas. O que de bom o outro tenha ficará sempre encoberto num véu de circunstância, num plano secundário. Faça-se algo de bom e durará pouco nas memórias; algo de mau durará nelas para sempre. Isto também tem a ver com o facto de nós, individualmente não nos conseguirmos avaliar a 100%, utilize-se que método se utilizar, há sempre algo que de nós que nos fica inacessível. Talvez seja a nossa auto-capacidade de análise que bloqueia por um qualquer sentido defensivo. Claro que a meditação, a regressão ao passado são técnicas que nos podem ajudar muito, mas também elas são do humano, logo, são limitadas.
Celebro este vir a público de um documento histórico tão importante e a minha esperança é que algo mude, pelo menos nos ateus e em quem não se insere no grupo dos fundamentalistas Cristãos.
Mais um artigo extremamente bem escrito, completamente de acordo!
Votos de boa Páscoa!
Dexei-lhe um desafio no meu blog, esteja á vontade, não se sinta obrigado...
Abraço!