Pax Intratibus

20.1.06

Desabafos (Catarse)

Abençoadas 00.00h de sábado que porão fim a esta tortura a que se dá o nome de campanha eleitoral! Iremos pois eleger mais um Presidente desta decrépita República que comemorará 96 anos de rebocos em cima de rebocos no próximo dia 5 de Outubro. Mas enfim, como eu dizia, iremos eleger a mais alta autoridade deste (hum...) País. Quantos milhões de euros nos vai custar um novo presidente parece ser coisa a que muito poucos ligam alguma importância. Eu sou desses, eu importo-me, eu ligo! As previsões chovem mais que a cântaros, há-as para todos os gostos, Cavacas, Alegres, Soares, Sousas, cada um tem as suas previsões suavizadas pelos acessores de campanha, aqueles que se escondem "por debaixo dos panos" como diria o Ney Matogrosso, ou seja, aqueles que na realidade ganham as eleições.
Numa altura em que as notícias se tornam cada vez mais preocupantes (isto para quem pensa do pescoço para cima) um pouco por todo o planeta e muito em particular neste nosso Portugal que a nós diz respeito parece que o futebol está a ser superado por um novo desporto, a saber: "A caça ao agente da autoridade". É um desporto que parece ficar relativamente barato, basta uma armazita qualquer, mesmo dessas transformadas de pistola de alarme em pistola de bala real e pronto lá se vai dar um tiro num GNR ou PSP. O Ministro da Administração Interna e o seu congénere da Justiça parecem andar mais que a Leste do Paraíso (estarei a ser pouco justo?!) e nós por cá vamos recebendo estas notícias já quase sem pestanejar, como se fossem algo que já nos pertence, algo que finalmente despertou na alma Lusa, a revolta contra a autoridade como sempre e como tudo o que se passa neste (hum...) País, completamente anacrónica, já que, a existir, deveria ter sido durante o regime ditatorial de 48 anitos. Bom mais vale tarde que nunca, só que neste caso é o oposto, mais valia nunca que agora.
Os ossos do nosso velho e rijo Afonso Henriques devem revoltear no seu túmulo de cada vez que os espanhóis compram uma herdade no Alentejo. Então, mas que desfaçatez é esta? Andou o desgraçado a esfolar-se todo com os seus companheiros para o primo dele não abarbatar isto e agora acabam por ficar com tudo só porque têm mais "éros". As má-linguas afirmam que cerca de um terço da nossa economia é deles e que obviamente os outros dois terços são de quem os apanhou e que esses não fomos nós já o sabemos. Apetece-me citar aqui uma frase duma canção dos Quadrilha: "...Ai Alentejo, quem te amou não te esqueceu...". É claro que os governantes deste (hum...) País nunca amaram o Alentejo atendendo ao esquecimento a que tem sido votado desde os tempos de D.Manuel I. Mas graças à canseira de tanta gente tudo isto vai mudar, agora temos o novo Skip, ooops! teremos um novo Presidente que tal como os anteriores nos habituaram irá pôr tudo nos eixos.
Felizmente, o Subsídio de Refeição da Função Pública foi aumentado 3 cêntimos por dia o que finalmente me irá permitir comprar a tão desejada vivenda na Quinta do Lago. É de péssimo gosto um Governo anunciar uma brincadeira destas - penso que o 1º Ministro deve andar a pensar com as muletas e não com os miolos - a que se junta a anedota dos 1,5% de aumento. Ah! (hummmm) País de grandes governantes. Assim, sim! Agora saíremos da crise mais depressa que o chifrudo esfrega um olho (não sei qual deles). As pessoas encostadas às paredes de mão estendida serão banidas para um complexo a construir perto de Xabregas e assim escondidas dentro de barracões ficaremos com um país sem miséria, sem fome, sem pobreza negra, porque só da negrura pode tratar a pobreza. Depois de tão facilmente resolvido o problema dos pobres, resolveremos o da altíssima taxa de desemprego. Como? É muito fácil! Em vez de se criarem postos de trabalho, abrem-se cursos de formação profissional nos quais as pessoas se arrastam saltando de um para outro para poderem receber aqueles cerca de 350 euros. Baixa o desemprego e a auto-estima dessas pessoas, mas quem pode ligar a uma coisa tão mesquinha como a auto-estima neste canto do planeta? Ainda por cima uma "americanice"! Ora! Está também previsto um projecto de Lei que proibirá os portugueses de adoecer, o que por si só resolverá as infinitas listas de espera para intervenções cirúrgicas e as enchentes nos Hospitais; a escolaridade obrigatória deverá ser reduzida ao 3º ano do primeiro ciclo (antiga 3ª classe). Para que precisamos nós de saber mais do que ler e escrever (mal)? E meus concidadãos temos o problema da educação resolvido. Tudo está previsto e tudo será implementado com a devida eficácia e rapidez a que já estamos habituados nestes séculos de nacionalidade (hmmmm). E viva nós! Ficaremos com muito menos problemas que os Americanos. Também o tráfico de armas e o de droga será controlado pelo governo o que permitirá aumentar as reservas do Banco de Portugal (que neste momento se devem resumir a pouco mais que um kilo de pó de ouro (de 9 Kilates, vulgo ouro americano).
Li no CM (leia-se Correio da M...a) que a cada 2 dias é violada em Portugal uma criança. Estes são os dados referentes às crianças que dão entrada nos hospitais, porque a maioria nem lá põe os pés. Ora vão lá chamar país (hmmmm) de brandos costumes à avózinha! Se isto são brandos, então os Americanos, Russos e Chineses são como o caldo verde do qual se diz que não faz nem bem nem mal.
Situação recente: Um homem que já em tempos havia assassinado um tio, prega um tiro num soldado da GNR, cega-o de uma vista, fere-o e depois ainda passam um dia e uma noite a falar com Sua Excelência! Coitadinho! Não terão sobrado umas granadas da Guerra Colonial? Tinham sido bem empregues. Não! Não me tornei partidário do "Olho por olho", já que esta lei de Talião levaria a um país cheio de gente com apenas um olho, mas que há situações que são insustentáveis e para as quais já não há pachorra (nem a Alentejana), isso há.
Bom, se eu fosse o Papa ou o Dalai Lama não escreveria isto, mas eu não sou nem um nem outro (felizmente), sou apenas um mísero abade (eleito à revelia da Opus Dei e pela boa-vontade de alguns amigos que me concederam o título) e como abade que sou, revolto-me, não contra Deus, o Universo, o Karma ou o que lhe quiserem chamar, mas sim contra a má-vontade e a perfídia enorme de que só o Ser Humano é capaz de trabalhar com tanta maestria.
Este não é o meu estilo de post, eu costumo deixar estas coisas para o Praça da República, o Sombra da Azinheira ou o Falar da Gente, mas até eu encerrado neste mosteiro de tristes paredes húmidas, escorrentes de água, sinto as minhas lágrimas escorrerem e baterem nas lajes irregulares e já escuras de tantos séculos de amargura.


 
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