Pax Intratibus

25.12.05

Solidão

Sendo o Natal uma época em que tantas pessoas se sentem sós não quis deixar de aqui vos passar este pequeno texto de um grande senhor chamado Francisco Buarque de Holanda (Chico Buarque).

Solidão vista pelo Chico Buarque

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... isso é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que já não podem voltar... isso é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... isso é equilíbrio.

Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida... isso é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... isso é circunstância.

Solidão é muito mais do que isto.

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma...

Francisco Buarque de Holanda

24.12.05

Confissões

Confesso que gosto de ler os posts do Celtiberix no "Sombra da Azinheira" e gostei deste último em particular. Porquê? Por causa daquela repetição propositada do: "...daqueles que (desavergonhadamente) teimam em chamar país a isto...". No entanto, discordo quando ele diz que um Deus decretou qualquer coisa de especial para esta altura do ano. Bom, que eu saiba Deus não decretou nada acerca, a Igreja é que o fez. Demos à Igreja o que é da Igreja e a Deus o que é de Deus. O paraíso que o acima referido bloguista persegue na Terra é o único que existe, pois para começar é aqui que o Homem deve ser feliz e não num qualquer local paradisíaco em que não há guitarras nem saxofones (o que desde logo impede que seja paradisíaco).
Que o Natal é muito mais do que um qualquer aniversário do nascimento de Cristo (que aliás nasceu e morreu na Primavera) prova-o o facto de também nós que amamos o Gautama Buda aproveitarmos esta época para de qualquer forma intensificarmos o que já sentimos nos outros trezentos e tal dias do ano civil. Na sua origem, o dia 25 de dezembro era a festa de Mitra, Deus simbolizado por um touro e muito celebrado entre os Romanos e não só. A Igreja fez o que se faz sempre em religião, aproveitam-se os santuários e as datas comemorativas dos Deuses anteriores e é meio caminho andado para uma melhor aceitação do novo culto.
Falar-se da hipocrisia que impele as senhoras "finas" ou nem tanto assim de dar uma esmolita ao sem-abrigo, é problema das senhoras e não de um qualquer sistema filosófico ou religioso. Se a mensagem Crística fosse assimilada, ou seja, se ela se constituísse em "praxis" não haveria a esmolinha do Natal, haveria equanimidade, haveria a entreajuda de todos os momentos. Assim, é-se solidário uma vez em 365 dias (pronto, amigo T., uma vez em 366 dias nos anos bissextos) e fica-se assim como que com a alma lavada, recauchutada, tipo "efeito Breeze". Culpar deste facto, Deus, Buda, o Natal, será no mínimo ingénuo. Culpe-se quem assim age, não porque vai a um templo desta ou daquela religião, mas sim porque não vai lá fazer nada a não ser talvez ser visto e recatar-se do medo de morrer e a seguir não ter para onde ir. Pois por mim essas pessoas podiam ir todas à m... (passe a palavra que me lembrei que os meus amigos me elegeram Abade. Um deles foi o Diácono Euclides também conhecido por Celtibérix, rsrsrsrs). Aproveitemos o Natal para melhorarmos mais um pouco como seres humanos, ajudemos a Quercus, associações de protecção à infância, os idosos, os sem-abrigo, etc. Façamos algo e deixemos as críticas a quem nada faz a não ser proclamar-se piedoso(a) porque é não sei o quê em termos de religião. Quem nada faz pouco é.
Um Bom Natal a todos e todas que têm a inteligência de me ler [ :)) ].

18.12.05

A IDADE DO VAZIO


Vivemos na idade do vazio! Se nos anos 50, 60 e 70 existiam movimentos que por si sós preenchiam vidas, hoje vive-se na televisão, no computador, naquela pessoa, no DVD com o filme ou o concerto, em festas cuja finalidade não é divertir mas sim fazer esquecer, etc. Bom, o que é certo é que não se vive, “ganha-se a vida”, embarca-se em esquecimento deliberado, mas não se vive, os bens materiais falam sempre mais alto! Vive-se a comprar porque ainda é uma das poucas formas de atacar a ansiedade existencial, (provocada pela ausência de metas, de objectivos a atingir) ou a comer em exagero, a beber em exagero (o que é pior) ou a consumir drogas para melhor aguentar as Raves, as baladas, ou o que é mais grave, para conseguir aguentar esta vida. Os valores morais estão decadentes, o comportamento ético é algo em vias de extinção. O que interessa é curtir, porque a vida se pressente curta (mas nunca se consciencializa verdadeiramente este facto). O que interessa o amanhã, mesmo o hoje à tarde ou mais tarde, hoje?
Vejamos o caso grave das Religiões. As Cristãs perderam, estão a perder ou não souberam concretizar as ideias de Cristo, torná-las chamativas. Não nos poderemos talvez admirar com esta realidade se pensarmos que mesmo o próprio Jesus Cristo o não conseguiu fazer há cerca de quase 2000 anos atrás.
Destas tristes realidades surgem, no entanto, pessoas e crenças mais atentas, ou pelo menos, mais interventivas. Se excluirmos o ateísmo que é sem dúvida nenhuma o vencedor desta idade vazia, mas não o seu causador, vemos cada vez mais o receio de uma Igreja Católica pela doutrina espírita que ganha adeptos em grande número a nível mundial. O caso do Brasil é bastante sintomático desta situação. O que é grave (?) é o sincretismo envolvido, já que, grande parte destas pessoas são espíritas e católicas ao mesmo tempo; o Budismo que surgiu de forma galopante no Ocidente em grande parte devido à invasão desenfreada e genócida da China no Tibete (infelizmente, há males que vêm por bem), também é terreno fértil ao sincretismo, ao “mix-up”, jamming, o que quiserem chamar a estas misturadas xaroposas. Ao nível do Budismo ocidental o que vemos muito? Aproveita-se do Dharma (ensinamentos Búdicos) o que interessa a cada um e o resto passa imediatamente a um plano secundário (aliás, o mesmo que se passa na Igreja Católica e não só). A título de exemplo, veja-se que o Budismo renega terminantemente o aborto, a homossexualidade, a eutanásia, etc. É verdade que o Budismo é profundamente tolerante, mas em questões que remetam ao terminar propositado duma vida ou adoptar práticas que não são adequadas sexualmente (leia-se a propósito Tsering Paldron, ou Emília Marques Rosa, monja Budista Portuguesa, a mais importante no que respeita ao Budismo Tibetano), aí o Budismo é firme. Também temos os Lamas Budistas como os Padres, falando sobre sexualidade (da qual muitos deles era suposto pouco ou nada saberem acerca), de óculos escuros, leitor de Mp3, ou seja, cada vez mais ocidentalizados. Muitos vivem no Ocidente, ganha-se mais e há mais conforto. S.S. chegou já ao ponto de ter de expulsar uns quantos Lamas que apresentavam teorias demoníacas aos discípulos (e isto no Budismo). Fica-nos o exemplo de um Dalai Lama que merece bem o título de Santidade, bem como de alguns Lamas “full time”.
O amor pela Natureza, o amor pelos seres que sentem, esse é praticado ou tentado por relativamente poucos, se bem que penso que este número esteja a aumentar o que propõe uma esperança para o planeta. O Dalai Lama afirma: “Não é importante que você se torne Budista. É importante que você se torne uma pessoa boa ou melhor do que é.” Ou ainda: “Se você não conseguir fazer o bem a todos os seres, pelo menos não faça mal.”.
Sabemos que há que criar condições para que os seres se sintam mais felizes, mas esta sociedade que consome bens e seres não se compadece com esta visão das coisas. Como diz a canção: “O verde do dólar é mais forte que o verde que havia” (na natureza). Isto talvez explique tantas adesões ao Budismo. Uns mantêm-se na esteira dos ensinamentos; outros tornam-se Budistas, tomam refúgio, ou seja, fogem ao sofrimento e a tantas questões que incomodam refugiando-se no mestre, nos ensinamentos que mostram o caminho a seguir para evitar o sofrimento e na comunidade budista que apoia. Até aqui nada de novo, o Cristianismo também tem de tudo isto.
As medicinas alternativas, as milhentas correntes esotéricas, a ressurreição cristã, o nirvana budista, a vida para além desta vida que todos ou quase todos apregoam serão algo mais do que anestesiantes? Seguimos uma corrente e mantemos dentro dela a nossa individualidade de pequeno objecto flutuante a ser violentamente revolteado na corrente ou diluir-nos-emos na própria correnteza do rio? A comunidade é importante, os ensinamentos são-no muitíssimo mais. Os ateus não estão para se chatear com todas estas “muletas”, talvez por isso sejam ateus, por preguiça mental (ou pensando no dono do sombra da azinheira, talvez não).
Quer se queira quer não o homem necessita do religioso do “Relicare” (ligar) que as religiões proporcionam. Viver apenas a parte física do homem é o mesmo que termos um homem completo-incompleto.
Esta anestesia emocional em que se vive neste início de século XXI é quase como que um retorno à “barbárie” medieval. O mundo segue numa “ganza” colectiva da qual uma pequena percentagem de seres humanos se esforça por sair e outra ainda mais pequena já saiu ressacando.
Alguns dos meus parcos leitores dirão que estou a racionalizar excessivamente, outros pensarão que me sinto desiludido com as religiões de uma forma geral. Nada mais errado. Os que irão pensar na racionalização são os que já me categorizaram como “intelectual” (de café?), são os que me conheceram e pensam que ainda me conhecem, ou seja, que eu ainda correspondo àquele padrão de há não sei quantos anos atrás, erram nisso como aliás em quase tudo o que me respeita; os que pensam que estou desiludido com as religiões também erram, estou mais do que nunca do lado delas, pronto para a “luta”! Se já não podemos salvar o que se perdeu, salvemos o possível. Pensemos acima de tudo no Planeta, nesta nossa casa tão linda que às vezes dou por mim a pensar que nem a merecemos. Tenhamos pois esperança no futuro alumiados por estas luzes negras. Mantenha-se por Decreto-Lei o coração feliz e o espírito atento ou o coração a sorrir e a mente desperta.


 
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