Pax Intratibus

21.2.06

Ainda acerca do Irão

Muito se tem escrito e falado acerca do Irão, do Fundamentalismo Islâmico Xiita, das polémicas declarações de Freitas do Amaral – M.N.Estrangeiros – acerca do ridículo episódio dos desenhos com Maomé. Freitas manteve uma atitude que é incomum nos políticos Portugueses, ou seja, borrifou-se nos Americanos e manteve uma atitude claramente independentista dos ideais dos EUA. Nós Portugueses, passamos o tempo a afirmar que os nossos Governos só fazem aquilo que os americanos querem! E qual é a reacção dos Portugueses quando de forma inabitual um Ministro vem opor-se àquilo que o G.W.Bush entende que é o correcto? Criticamos! Então, em que é que ficamos? Continuamos a andar a reboque de uns EUA decadentes e sem moral (veja-se a invasão do Iraque baseada em nada mais do que mentiras), ou vamos começar finalmente a afirmarmo-nos como Europeus?
Se por um lado a tradição judaico-cristã em que todos somos educados e na qual as nossas leis assentam e a herança pitagórica do ou é verdade ou é mentira, não havendo meio termo; juntando-lhe a triste contribuição de René Descartes com o seu Racionalismo, ficamos com um cenário de inflexibilidade, de fundamentalismo quiçá mais fundamentalista que o Iraniano. Colocamos no nosso Blog fotos de uma criança iraniana a ser estupidamente punida por ter sido apanhada a roubar pão; e as nossas crianças que sofrem, por vezes, tanto ou mais e nem pão roubaram? Parafraseando Confúcio: “porque nos preocupamos com a soleira da porta do vizinho que está suja e não limpamos 1º a nossa?”, ou o mesmo Confúcio em : “Quem tem telhados de vidro não atira pedras”; talvez prefiram o Evangelho segundo S. João? Então eis o testemunho deste apóstolo: “Porque reparas no cisco que o teu irmão tem no olho e não vês a trave que está no teu?”.
Ok! Lá vão pensar que eu sou extremista, não, não sou. Mas penso ser de uma ingenuidade tremenda pensarmos que nós somos os bons e os Iranianos são os maus. E tudo isto porquê? Porque os nossos “amigos” americanos manipulam os orgãos de informação para que quem não pensa, pense que as coisas assim são.
Pois, mas não são. Nada é assim tão linear e pensar com os miolos que temos não dá trabalho nem é vergonha, é aquilo que devemos cada vez mais fazer. Quase apetece chamar aqui o Kant com o seu célebre tribunal da razão. Mas, é sempre a razão. E o coração? Ou se quisermos aquela parte de nós que também pensa mas sempre (ou quase) em segundo plano.

12.2.06

Fiquei profundamente chocado com o caso da pequenita de 5 anos, que morreu depois de ter sido barbaramente torturada pelo pai e pela avó. Não bastando o facto de a espancarem, ainda a submetiam a banhos de água gelada que alternavam com água a ferver. O culminar deste processo profundamente sádico foi queimarem-na com um ferro em brasa e terem-na deixado morrer em casa sem sequer a terem levado a um hospital. Dizemos que vivemos numa sociedade “civilizada”, no século XXI, em que as pessoas estão cada vez mais evoluídas (??!!), que estamos na Era do Aquário (Era de grande misticismo, evolução espiritual, tretas! Muitos nem entendem o seu simbolismo e as suas consequências, isto em grande parte devido aos pseudo-movimentos New Age) . Agora pergunto: que animal irracional trata as suas crias desta forma? Nenhum! Que sociedade permissiva (ou criminosa?) é esta em que uma criança é selvaticamente assassinada e o seu corpo atirado a um rio como se de um saco de lixo se tratasse (o que também nunca se deve fazer)! Onde estão os valores que deveriam nortear uma estrutura que se diz responsável? Dizia o Fernando, o Pessoa, que “o melhor do mundo são as crianças”. Realmente deviam ser. Mas o melhor para quê? Para as torturas gratuitas? Numa sociedade em que tudo se sabe, em que os chineses sabem de toda a gente que apoia o Tibete e os Tibetanos de forma directa ou indirecta; que quem faz o download do “Mein Kampf” do Hitler fica na lista dos serviços de informação, etc., etc.
Parece-me estarem as prioridades um tanto deslocadas. E agora? Como vai ser? A avó já não deve ser muito nova, o pai é toxicodependente. Quanto vale uma vida pequenina de 5 anos? Talvez valha apenas o dobro ou no máximo o triplo de pena de prisão. Há pecados veniais, que podem ser perdoados com maior ou menor facilidade, mas há também pecados capitais que não podem nem devem ser perdoados e muito menos esquecidos. Instituam-se penas adequadas a crimes graves cometidos contra crianças. Nem tudo pode ser perdoado, não obstante as religiões nos encherem a cabeça constantemente com esta ladainha. Castiguem-se exemplarmente estas feras (sem querer ofender qualquer animal não racional), mais que não seja que as suas penas se constituam como factor de dissuasão para os seus iguais.

2.2.06

Sexualidades e Imaginação Poético-política


É surpreendente a forma como o nosso 1º Ministro nos põe atarantados com quase todos os dias uma medida nova (leia-se um imposto novo). A imaginação de Sócrates quase poderia rivalizar com a do velho filósofo grego de quem herdou o nome, não fosse o abismo que os separa, abismo esse que nós costumamos designar por inteligência. Dá a sensação que o nosso governante e os seus acessores sonham todas as noites novas medidas para nos sobrecarregar. Dizem que o dinheiro é pouco, mas há muitas formas de gerir o pouco. Uma dessas formas é a errada, e é com essa forma que o nosso governo nos brinda.
Também a oposição é como quase tudo neste País (hum...), fraca. Desculpa-se esta fraqueza, em parte, pelo facto de o Governo beneficiar de maioria absoluta no Parlamento. Mas mesmo assim sendo, digo eu, podia ser-se mais marcadamente opositor.

Estou a acompanhar com curiosidade e expectativa o caso das duas raparigas que querem casar em Portugal. O advogado afirma que a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo é inconstitucional (!). Fiquei de boca aberta! Então anda o Bloco de Esquerda a batalhar por esta
alteração legislativa há que anos e foi preciso vir o advogado das duas moças afirmar que o Estado está a desvirtuar a Constituição ao não permitir estes enlaces? Se elas casam é passado um autêntico atestado de burrice e incompetência ao B.E.. Mas, o que poderá advir de positivo nestes enlaces? Nada, claro! Da mesma forma que nada de bom advém dos casamentos heterossexuais (risos). Desde quando o casamento é algo de bom? Claro que são os direitos de cidadão que estão em causa e não o casamento em si. Ninguém escolhe o seu posicionamento sexual e ninguém deve ser “punido” ou ver os seus direitos cerceados porque certos sectores importantes da nossa sociedade têm maneiras de ver as coisas de uma forma que já está mais que bolorenta. Que um homem ame outro homem ou uma mulher ame outra mulher são “truques” do Inconsciente. A psicanálise afirma que quem escolhe o objecto de amor é o Inconsciente e não o Consciente, este apenas justifica a escolha pela racionalização. O consciente tem de se auto-satisfazer, tem de usar a lógica para se sossegar de que a escolha foi acertada. Até porque se fosse este último a fazer as escolhas do objecto de amor, por certo que a taxa de divórcios seria mais baixa. Não se ama a quem se deve, ama-se a quem se ama e pronto! Por isso deixem amar quem ama sem que seja diminuído por um Estado que se diz de direito, democrático. A Igreja opõe-se como (e com) uma grande força a estes casamentos (e é uma força que ninguém deve cometer a ingenuidade de desprezar), mas não deveria a Igreja ver-se a ela própria? Não deveria dar o exemplo? Vemos os pedófilos escaparem pelos buracos deixados por Leis mal elaboradas e penalizamos pessoas que a única coisa que querem é casar??!! Esta mesma Igreja proíbe aos homossexuais (e também aos divorciados) o direito à comunhão. E com que direito o proíbe? Por acaso Cristo deixou alguém a falar sozinho porque era rico, pobre, homossexual, prostituta, ou fosse lá aquilo que fosse? As leis estão cada vez mais distantes da justiça e a Igreja está cada vez mais longe de Cristo. Cristo é Cristo e a Igreja é a Igreja. Talvez por isso, em cada ano 600.000 pessoas trocam a Católica por outros credos, e isto só no Brasil! Eu como heterossexual masculino confesso que esta é uma questão que gostaria de ver resolvida de uma vez por todas, não obstante sentir um pouco de animosidade contra as lésbicas, mas isto apenas por motivos pessoais, ou seja, porque sofri horrores por causa de alguém (que não teve culpa, como é óbvio). No entanto, isso não me deixa nem cego, nem reticente em afirmar que concordo em absoluto com o casamento entre pessoas, independentemente de elas serem Homo, Bi, Hetero, Mono ou Assexuais.
Pronto! O pedido de casamento foi indeferido. Claro que isso não é surpresa para ninguém, muito menos para elas e para as associações que as apoiam. Mas é de lembrar que foi desta forma que tudo começou em Espanha até culminar em Julho do ano passado com o Parlamento Espanhol a aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por certo que outros pedidos se seguirão, noutras Conservatórias e inevitavelmente acontecerá o mesmo neste País (hum....). Vamos pois esperar para ver o que este Parlamento decidirá em relação a esta matéria.


 
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