Delírios Conscientes
Por lapso cometi um lapso um destes dias. Disse que o lince é um animal que já não existe, a não ser quando aparece um e então já existe. Um dia destes cometi um lapso por lapso. Disse que este Governo não existe, que é apenas uma invenção da eterna e enorme criança que há em mim. A criança errou, este Governo existe mesmo, mas ainda assim, recuso-me terminantemente a crescer. Eu ainda nem sei o que vou ser quando for grande (Deepak Chopra dixit). Crescer para quê?! Quando se cresce, muitas vezes acaba o arco-íris, o policromismo, o technicolor, cresce-se e fica-se encerrado numa enorme gama de cinzentos. O arco-íris fica escondido no branco que também está escondido no cinzento. Entende-se que tudo é mau a não ser que seja bom! Ou que tudo é bom a menos que seja mau. O que interessa se é bom ou mau? O que mais interessa é que eu sou! E eu, por lapso evolutivo, sou bom e mau, não-bom e não-mau. Sou! O que me interessa que alguém ou "alguéns" não queiram que eu assim seja se o vou ser da mesma forma (lembra José Régio e o seu Cântico Negro)? E já agora, o que me interessa a forma, a função e a estrutura se eu não sou Gestaltista (como o meu amigo Celtibérix), Funcionalista ou Estruturalista? Deixo essas coisas para os estudiosos que é função que amei, mas que hoje me enfada. Hoje prefiro sentir que estudar. Sentir o que só a minha essência única (aquilo que vulgarmente se designa por características individuais) consegue sentir. Analisar o que se sente é uma perda de tempo e da alma. Sente-se e pronto! Não quero com isto dizer que o racional é inerte ou inútil, claro que não! Por vezes temos de usar a nossa parte racional, mas devemos fazê-lo em desfavor da nossa parte emocional. Por sua vez, as emoções devem ser "usadas" em desfavor da nossa parte espiritual, do nosso imo, das profundidades do Mim onde se esconde a nossa gratitude, a nossa união com o Cósmico, o Universal, o Divino. Não vale a pena buscar fórmulas onde nunca as poderemos encontrar. As dos outros não nos servem, as do nosso Eu também não. Temos de recorrer às fórmulas do Mim, às não-categorizações, abandonar os nossos referenciais estafados pelo uso reflexivo, condicionado (que no entanto, valeu a Pavlov ser condecorado com a "Ordem de Lenine"). Tentemos ver tudo como se fosse a primeira vez que o observamos e sem fazer comparações ou colocar-lhe rótulos (Krishnamurti dixit).
Para começar vejam a mais-valia que isto é nas relações conjugais de fundo e meio-fundo, ver todos os dias a mulher com quem se vive como se fosse a primeira vez que a miramos. Ou olhar para o recibo do ordenado e vê-lo como algo novo todos os dias. Bom, penso que em ambos os casos as decepções talvez nos façam ter um enfarte, mas se não fizerem, com o treino e daqui a umas 20 ou 30 reencarnações a privarmo-nos do que gostamos, e a viver com o cérebro em estado alfa permanentemente, talvez consigamos. Mas que vale a pena tentar, isso vale. O que não vale é passar 2 ou 3 anos a olhar para uma parede em estado hipnótico e a tentar ver o que está para lá dela, se bem que eu perceba a finalidade deste tipo de Meditação no Budismo Zen, tradição Soto. Gosto mais da tradição Rinzai e dos seus magníficos "desarmadores" da razão, os "Koans"*. Afinal de contas a vida é tão bela que ninguém sairá vivo dela (alguém que não eu, disse esta frase).
*Koan = palavra japonesa que se pode traduzir como "exame das palavras" ou "análise das palavras". É usada no Budismo Japonês, o ZEN na tradição Rinzai. Consta, em regra, de uma afirmação ou interrogação racionalmente absurda. O mais conhecido é "Qual o som de uma única mão a bater palmas?" ou "o que vais fazer com essa pá que não tens nas mãos?". A finalidade é fazer a razão andar às voltas até que desiste, pelo que teremos uma consciência mais "apurada do real". Peço desde já desculpa aos puritanos, mas este não é um Blog de Budismo. Sei que muitíssimo mais há a dizer sobre isto. Talvez o faça um dia destes que não este.