Pax Intratibus

27.10.06


Li no site da SIC que especialistas internacionais mandatados pela ONU estão a avaliar as consequências no meio ambiente resultantes do conflito Israel-Hezbollah. O grupo foi enviado pelas Nações Unidas e o objectivo desta missão é perceber até que ponto a guerra pode ter ameaçado os recursos ambientais.
Os Recursos Ambientais!!!??? Então e onde estavam os especialistas da ONU para evitar o impacto indescritível que resultou da morte de tantas centenas de pessoas de ambos os lados da guerra?! Impacto Ambiental???! Parece-me que entendo, primeiro matam-se Seres Humanos, Animais e Plantas e depois com pézinhos de lã vamos ver como é que ficou o meio ambiente, o que sofreu e quanto sofreu! Ora, ficou melhor, são menos pessoas e animais a poluir!!! O sofrimento dos Homens, esse era inevitável, não se podia fazer nada!!!???
É com a maior satisfação que sou membro da Associação Internacional "Human Rights First" (Primeiro os Direitos Humanos), da "Campanha Internacional a Favor do Tibete" e da "Alliance for a New Humanity" (Aliança para uma Nova Humanidade) fundada por Deepak Chopra, e como Ser Humano preocupado com o futuro da Humanidade e de Gaya, acho isto tão grotescamente ridículo que me faltam as palavras. Há algo de deslocado em tudo isto: as preocupações centram-se na qualidade da água em virtude da possível contaminação de locais que representem perigo para a vida humana, flora e fauna. Deixem-me rir, perigo para a vida humana!!!! E os mortos quem os ressuscita? E os estropiados? E os desalojados? As Bombas e os Rockets não sabem quem é o alvo. Depois do enorme estrago feito avaliam-se os malefícios! (já estou a ouvir as vozes ateias a argumentar que a responsabilidade é de Deus e que este tinha obrigação de evitar estas merdas que nós fazemos porque não usamos 1% da inteligência que o Universo nos proporcionou). Porque não interviu a Comunidade Internacional em força para impedir mais esta tragédia? Os lençóis freáticos, lagos, rios, são a maior preocupação do momento. Compreende-se, porque efectivamente os vivos são e deverão ser sempre mais importantes e têm muito mais necessidades que os mortos, o que tem toda a lógica. Já agora porque não nomearam uma comissão para avaliar as Uzzi's e as Kalachnikov's para ver se não encravavam?
Agora estes senhores vão estar lá um mês e vão listar os locais a descontaminar.
Conclusão: A ONU não tem dinheiro e muito menos força para evitar a fome e a doença galopantes em várias regiões do Globo e conflitos (mais ou menos) gratuitos!
O Líbano sofreu 34 dias de bombardeamentos massivos, Israel sofreu durante 34 dias o impacto dos "Órgãos de Estaline" (nome que os combatentes alemães davam a este tipo de rockets de fabrico russo durante a II guerra e que os apavorava).
Que sociedade esta em que se tentam remediar os malefícios da poluição e se promove a mortandade de tudo o que é Ser Humano, Animal ou Planta, de tudo o que vive!?
"Demos a Deus o que é de Deus e ao Homem o que é do Homem" (paráfrase de uma conhecida frase de Jesus). A cada um as suas responsabilidades.
Dá-me a sensação de que a ONU deveria rever as suas prioridades. Sinto que os Homens deveriam rever as suas prioridades. Ou, num acesso surreal: Penso que as prioridades deveriam rever os Homens!

6.10.06

Noites Anacrónicas

Beja, deserta de gentes em Julho. Como aldeia exposta ao sol fundente de Agosto.
Beja que desperta num Setembro amuado, de saber-se Verão acabado.

Beja dos tantos abandonos, políticos e de outros contornos,
Beja deserta, de Saara disfarçada, da falta de pessoas amortalhada.

Mas ao olhar o castelo ou uma qualquer rua, sob a chuva miúda e nocturna,
Ah! Beja, que aromas se desprendem do teu ventre,
que sentimentos acordam num repente, de gente abalada, viva, morta, enterrada.

E quando finalmente me sorris à distância do olhar, aperta-me o coração,
De te saber tão cândida e sofrida, do teu desalento, desespero, ferida.
Ah! Beja, mãe pobre de tantos filhos, amamentados a esperança e nostalgia,
Dum tempo tão belo e arruinado, que sonhei que ele da planície renascia.

Escuto no silêncio da noite o chamamento de séculos para a oração virada para Meca,
Ouço os barulhos dos gárrulos vendedores no mercado, o artigo anunciado.
Atento naquela linguagem que estranha me é, que percebo porque a noite o permite,
Permissões e deslizes da lua em crescente na planície amada pelo crente.

Sentado numa almofada do círculo de Al-Mu'tamid, debico com prazer os seus versos,
Versos que embalam numa Beja feliz, longínqua da Sevilha meretriz.
Sinto-me bem neste povo de chá de menta e tamareiras, de tabaco e boas-maneiras,
Al-Mu'tamid continua cavalgando a sua inspiração, a brisa percorre-nos amena.

Viver para quê, se já fenecemos? Morremos na sede dum passado que acalenta e aninha.
De repente, como num acordar doloroso, a chuva pára, o silêncio preenche-se.
O passado escorre como mel pelos meus lábios gretados da falta de beleza e harmonia.
Sabe a pouco acordar nestes tempos de ninguém saber quem és, mas apenas o que tens.


 
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