Pax Intratibus

4.1.07

O Regresso do Abade!

Quero começar por agradecer à Trequita que me incentivou e muito especialmente ao grande Bom Gigante que me deu as boas-festas. Para todos os que me liam (e em especial para vocês dois) o meu muito obrigado.
Espero que todos tenham tido umas festas com bastante afecto. Eu confesso que pouca importância dou a estas festas. Porquê? Bom, ao Natal porque se sabe que Cristo nasceu e morreu na Primavera e o 25 de Dezembro mais não foi do que um aproveitanço da festa Romana ao Deus Mitra. Ao Ano Novo (o que é isso?) porque o celebro de acordo com o calendário Celta.
Quero pedir desculpa pelo meu afastamento que se deveu ao facto de não ter tempo sequer para meditar um pouco e há prioridades... Agora vou tentar voltar de novo aos Posts porque estou um pouco mais aliviado de trabalho. BEM HAJAM!
Segue-se um pequeno escrito um pouco enferrujado, mas tenho de recomeçar e porque não por aqui? :))
Percorro a distância que se some no meu olhar fixo nas florzitas amarelas que Deus semeou. A brisa suave agita-as como se agitam os meus pensamentos. A beleza do Alentejo florido e carregado de verde enche-me o olhar e a alma de calma, serenidade e fantasia. Ai, quem me dera seres tu Alentejo. Não! Já não me basta ter-te na alma, quero ser Tu. Quero ter essas tuas cores que me fazem brilhar as íris castanhas com outros matizes, quero ter os aromas que te acompanham onde quer que estás ou onde te revejo. Quem te tem nunca te perde ou se perde de ti. Acompanhas-nos qual cãozito fiel e alegre nos passeios e folguedos do nosso corpo, nos desvarios da nossa alma. E quando em ti o céu se derrama e te fertiliza é como se algo dentro de nós também se renovasse, se tornasse mais vívido.
Escorrem-te nessas alturas as lágrimas do céu pelos troncos das tuas, tantas vezes, esparsas árvores. Corre-te pelas veias que se abrem no teu solo esse sangue incolor a que chamamos água já tão carregado pelo teu sabor, pelos teus cheiros.
O sobreiro, a azinheira, são os teus estandartes... Queria que fosse o Salgueiro Chorão com os seus ramos caídos a beijar o chão, gotejando lágrimas carregadas de esperança e melancolia, como melancólica e nostálgica é a tua essência ancestral.
O poeta diz “ai Alentejo quem te amou não te esqueceu...”! Eu que de poeta nada tenho, digo que quem te ama não te esquece. A nossa relação de amantes que se disputam e reconciliam não teve, tem ou terá fim. Que não se compare o meu amor por qualquer mulher que de repente me apareceu no caminho pelo amor que por ti sinto. Como talvez dissesse Pessoa num dos seus piores dias de inspiração: “O que por ti sinto ou pressinto nunca o direi a ninguém excepto a todos aqueles que me ouvem e esses são eu e pouco mais do mim que reparto com mais ou menos boa vontade por aqueles a quem assim o decido...”.
Por
isso, e como sempre, a ti Alentejo...

27.10.06


Li no site da SIC que especialistas internacionais mandatados pela ONU estão a avaliar as consequências no meio ambiente resultantes do conflito Israel-Hezbollah. O grupo foi enviado pelas Nações Unidas e o objectivo desta missão é perceber até que ponto a guerra pode ter ameaçado os recursos ambientais.
Os Recursos Ambientais!!!??? Então e onde estavam os especialistas da ONU para evitar o impacto indescritível que resultou da morte de tantas centenas de pessoas de ambos os lados da guerra?! Impacto Ambiental???! Parece-me que entendo, primeiro matam-se Seres Humanos, Animais e Plantas e depois com pézinhos de lã vamos ver como é que ficou o meio ambiente, o que sofreu e quanto sofreu! Ora, ficou melhor, são menos pessoas e animais a poluir!!! O sofrimento dos Homens, esse era inevitável, não se podia fazer nada!!!???
É com a maior satisfação que sou membro da Associação Internacional "Human Rights First" (Primeiro os Direitos Humanos), da "Campanha Internacional a Favor do Tibete" e da "Alliance for a New Humanity" (Aliança para uma Nova Humanidade) fundada por Deepak Chopra, e como Ser Humano preocupado com o futuro da Humanidade e de Gaya, acho isto tão grotescamente ridículo que me faltam as palavras. Há algo de deslocado em tudo isto: as preocupações centram-se na qualidade da água em virtude da possível contaminação de locais que representem perigo para a vida humana, flora e fauna. Deixem-me rir, perigo para a vida humana!!!! E os mortos quem os ressuscita? E os estropiados? E os desalojados? As Bombas e os Rockets não sabem quem é o alvo. Depois do enorme estrago feito avaliam-se os malefícios! (já estou a ouvir as vozes ateias a argumentar que a responsabilidade é de Deus e que este tinha obrigação de evitar estas merdas que nós fazemos porque não usamos 1% da inteligência que o Universo nos proporcionou). Porque não interviu a Comunidade Internacional em força para impedir mais esta tragédia? Os lençóis freáticos, lagos, rios, são a maior preocupação do momento. Compreende-se, porque efectivamente os vivos são e deverão ser sempre mais importantes e têm muito mais necessidades que os mortos, o que tem toda a lógica. Já agora porque não nomearam uma comissão para avaliar as Uzzi's e as Kalachnikov's para ver se não encravavam?
Agora estes senhores vão estar lá um mês e vão listar os locais a descontaminar.
Conclusão: A ONU não tem dinheiro e muito menos força para evitar a fome e a doença galopantes em várias regiões do Globo e conflitos (mais ou menos) gratuitos!
O Líbano sofreu 34 dias de bombardeamentos massivos, Israel sofreu durante 34 dias o impacto dos "Órgãos de Estaline" (nome que os combatentes alemães davam a este tipo de rockets de fabrico russo durante a II guerra e que os apavorava).
Que sociedade esta em que se tentam remediar os malefícios da poluição e se promove a mortandade de tudo o que é Ser Humano, Animal ou Planta, de tudo o que vive!?
"Demos a Deus o que é de Deus e ao Homem o que é do Homem" (paráfrase de uma conhecida frase de Jesus). A cada um as suas responsabilidades.
Dá-me a sensação de que a ONU deveria rever as suas prioridades. Sinto que os Homens deveriam rever as suas prioridades. Ou, num acesso surreal: Penso que as prioridades deveriam rever os Homens!

6.10.06

Noites Anacrónicas

Beja, deserta de gentes em Julho. Como aldeia exposta ao sol fundente de Agosto.
Beja que desperta num Setembro amuado, de saber-se Verão acabado.

Beja dos tantos abandonos, políticos e de outros contornos,
Beja deserta, de Saara disfarçada, da falta de pessoas amortalhada.

Mas ao olhar o castelo ou uma qualquer rua, sob a chuva miúda e nocturna,
Ah! Beja, que aromas se desprendem do teu ventre,
que sentimentos acordam num repente, de gente abalada, viva, morta, enterrada.

E quando finalmente me sorris à distância do olhar, aperta-me o coração,
De te saber tão cândida e sofrida, do teu desalento, desespero, ferida.
Ah! Beja, mãe pobre de tantos filhos, amamentados a esperança e nostalgia,
Dum tempo tão belo e arruinado, que sonhei que ele da planície renascia.

Escuto no silêncio da noite o chamamento de séculos para a oração virada para Meca,
Ouço os barulhos dos gárrulos vendedores no mercado, o artigo anunciado.
Atento naquela linguagem que estranha me é, que percebo porque a noite o permite,
Permissões e deslizes da lua em crescente na planície amada pelo crente.

Sentado numa almofada do círculo de Al-Mu'tamid, debico com prazer os seus versos,
Versos que embalam numa Beja feliz, longínqua da Sevilha meretriz.
Sinto-me bem neste povo de chá de menta e tamareiras, de tabaco e boas-maneiras,
Al-Mu'tamid continua cavalgando a sua inspiração, a brisa percorre-nos amena.

Viver para quê, se já fenecemos? Morremos na sede dum passado que acalenta e aninha.
De repente, como num acordar doloroso, a chuva pára, o silêncio preenche-se.
O passado escorre como mel pelos meus lábios gretados da falta de beleza e harmonia.
Sabe a pouco acordar nestes tempos de ninguém saber quem és, mas apenas o que tens.

20.9.06

Delírios Conscientes


Por lapso cometi um lapso um destes dias. Disse que o lince é um animal que já não existe, a não ser quando aparece um e então já existe. Um dia destes cometi um lapso por lapso. Disse que este Governo não existe, que é apenas uma invenção da eterna e enorme criança que há em mim. A criança errou, este Governo existe mesmo, mas ainda assim, recuso-me terminantemente a crescer. Eu ainda nem sei o que vou ser quando for grande (Deepak Chopra dixit). Crescer para quê?! Quando se cresce, muitas vezes acaba o arco-íris, o policromismo, o technicolor, cresce-se e fica-se encerrado numa enorme gama de cinzentos. O arco-íris fica escondido no branco que também está escondido no cinzento. Entende-se que tudo é mau a não ser que seja bom! Ou que tudo é bom a menos que seja mau. O que interessa se é bom ou mau? O que mais interessa é que eu sou! E eu, por lapso evolutivo, sou bom e mau, não-bom e não-mau. Sou! O que me interessa que alguém ou "alguéns" não queiram que eu assim seja se o vou ser da mesma forma (lembra José Régio e o seu Cântico Negro)? E já agora, o que me interessa a forma, a função e a estrutura se eu não sou Gestaltista (como o meu amigo Celtibérix), Funcionalista ou Estruturalista? Deixo essas coisas para os estudiosos que é função que amei, mas que hoje me enfada. Hoje prefiro sentir que estudar. Sentir o que só a minha essência única (aquilo que vulgarmente se designa por características individuais) consegue sentir. Analisar o que se sente é uma perda de tempo e da alma. Sente-se e pronto! Não quero com isto dizer que o racional é inerte ou inútil, claro que não! Por vezes temos de usar a nossa parte racional, mas devemos fazê-lo em desfavor da nossa parte emocional. Por sua vez, as emoções devem ser "usadas" em desfavor da nossa parte espiritual, do nosso imo, das profundidades do Mim onde se esconde a nossa gratitude, a nossa união com o Cósmico, o Universal, o Divino. Não vale a pena buscar fórmulas onde nunca as poderemos encontrar. As dos outros não nos servem, as do nosso Eu também não. Temos de recorrer às fórmulas do Mim, às não-categorizações, abandonar os nossos referenciais estafados pelo uso reflexivo, condicionado (que no entanto, valeu a Pavlov ser condecorado com a "Ordem de Lenine"). Tentemos ver tudo como se fosse a primeira vez que o observamos e sem fazer comparações ou colocar-lhe rótulos (Krishnamurti dixit).
Para começar vejam a mais-valia que isto é nas relações conjugais de fundo e meio-fundo, ver todos os dias a mulher com quem se vive como se fosse a primeira vez que a miramos. Ou olhar para o recibo do ordenado e vê-lo como algo novo todos os dias. Bom, penso que em ambos os casos as decepções talvez nos façam ter um enfarte, mas se não fizerem, com o treino e daqui a umas 20 ou 30 reencarnações a privarmo-nos do que gostamos, e a viver com o cérebro em estado alfa permanentemente, talvez consigamos. Mas que vale a pena tentar, isso vale. O que não vale é passar 2 ou 3 anos a olhar para uma parede em estado hipnótico e a tentar ver o que está para lá dela, se bem que eu perceba a finalidade deste tipo de Meditação no Budismo Zen, tradição Soto. Gosto mais da tradição Rinzai e dos seus magníficos "desarmadores" da razão, os "Koans"*. Afinal de contas a vida é tão bela que ninguém sairá vivo dela (alguém que não eu, disse esta frase).
*Koan = palavra japonesa que se pode traduzir como "exame das palavras" ou "análise das palavras". É usada no Budismo Japonês, o ZEN na tradição Rinzai. Consta, em regra, de uma afirmação ou interrogação racionalmente absurda. O mais conhecido é "Qual o som de uma única mão a bater palmas?" ou "o que vais fazer com essa pá que não tens nas mãos?". A finalidade é fazer a razão andar às voltas até que desiste, pelo que teremos uma consciência mais "apurada do real". Peço desde já desculpa aos puritanos, mas este não é um Blog de Budismo. Sei que muitíssimo mais há a dizer sobre isto. Talvez o faça um dia destes que não este.

12.9.06

Desencanto ao Sul

A Marcha da Maternidade, as greves gerais, as greves parcelares, as marchas Gay, as manifestações do PN (Partido Nacionalista) contra os Gays, as manifestações pró e anti-direito ao Aborto. Eis as pedras basilares dos 8 deputados do BE na Assembléia da República e também sérias dores de cabeça para os restantes portugueses. Porquê? Porque dividem um espaço geo-sociopolítico que já tem mais divisões que a mansão que o Tallon tem na Quinta do Lago. Atravessam-se crises após crises e em vez de se procurar a tão almejada união que permitiria, independentemente de quaisquer posições políticas, religiosas, psicossexuais, etc. a feitura de um esforço conjunto, faz-se precisamente o oposto. Criam-se cada vez mais compartimentações, divisões por onde se passa de uma para outra por portas pequeninas e estreitas.
Acho completamente aberrante, num País da UE as pessoas serem obrigadas a inventar formas de protesto contra o fecho de uma maternidade. Uma Maternidade! Mas o que é isto!!?? Mas onde vivemos? Então fazem-se estádios, "expos" e quejandos e fecham-se maternidades? E já agora, logo, amanhã, porque não as fecham todas e quando os rebentos quiserem sair dá-se um salto à Espanha.
Parece fácil, não é? Mas por algum motivo as tropas romanas do Imperador Diocleciano (o tal que chacinou Cristãos que lhe garantiram um lugar de luxo junto do cornudo e coxo (não, não é esse, falo do diabo)) dividiram esta zona da Península em Galiza, Lusitânia e Bética. Eram três realidades distintas. De todos e só por curiosidade os Galegos tinham o pior exército da Península. Se é para ser Espanhol então vamos fundo, faça-se um referendo, caso contrário, acabemos com estas farsas melodramáticas, ridículas "ad absurdum" e construa-se mais em vez de se fechar o pouco que temos.
A propósito de fechar e lembrando a questão das escolas do Concelho que não vão poder abrir a tempo, problema já resolvido em parte devido à boa-vontade do exército, lanço daqui uma ideia: Aproveitando a situação, porque não abrir uma filial dos Pupilos do Exército em Beja? Assim, fechavam-se todas as escolas do Concelho que o Estado venderia a retalho e poupavam-se uns chorudos Euros. O Exército ficava a ganhar, deixava de ter falta de voluntários e todos ficavam contentes, excepto os pais que não quisessem ver os filhos fardados e submetidos àquela disciplina castrense que faz falta em inúmeros casos. Falo das situações em que os pais batem nos filhos em legítima defesa. Mas o que é que está certo neste País? (dilatando uma afirmação da Trequita: "Mas o que é que está certo nesta cidade?").

5.9.06

Milan Kundera e o Estado Português

Lembro-me da primeira vez que li "O Livro do Riso e do Esquecimento" de Milan Kundera. Considero-o a sua melhor obra, seguido de perto pela "A Arte do Romance" e "A Insustentável Leveza do Ser" (ou será a insustentável leveza dos ordenados mensais?). Três grandes obras de entre o acervo de um grande escritor. Mas curiosamente 3 obras que deveríamos condensar apenas numa, apadrinhar e aconselhar aos estrangeiros com o seguinte título: "Livro da Ensinança de Mal Governar a Toda a Prova" (D. Duarte não se importava) e como subtítulo: "Compreenda a República Portuguesa e os seus últimos 15 Governos em apenas algumas horas". Sim! E tudo graças a um escritor checoslovaco, que se viu obrigado a férias compulsivas e a naturalizar-se Francês porque o Stalinismo proporciona a um escritor toda a liberdade criativa que ele queira exercer com a única condição de nunca contrariar as "verdades" (leia-se Dogmas) do Zé Estaline.
Há uma parte do "Livro do Riso e do Esquecimento" em que Kundera discorre acerca das historietas que os homens contam sobre os seus episódios com as mulheres. Então Kundera separa estes contos em 3 tipos: As mulheres que um homem teve (quase sempre as mais desinteressantes, mas de forma nenhuma sempre), as mulheres que um homem quis ter mas nunca conseguiu e aqui os motivos podem ser milhentos (estas são sempre muito interessantes e descritas aos amigos carregadas de mentiras e desculpas) e um 3º tipo muito estranho a que nem o Kundera consegue dar bem a volta. Seriam aquelas mulheres que nós queríamos e podíamos ter tido, que nos queriam e nos podiam ter tido, mas que nunca pudemos ter porque passaríamos o muro para o outro lado. Ou seja, perderíamos nessas mulheres a nossa identidade, desfazendo-nos e espraiando-nos como um rio quando entra no oceano. Seria um sacrifício incomportável. Entraríamos na ausência do "quem sou"? E "quem é ela"? Que Eu? Que Ela? Já imaginam a barafunda! (tão do agrado do Budismo, risos).
Num paralelismo livre com o Estado Português diríamos que o 1º tipo são as distorções do que supostamente temos, mas que afinal nem temos (tem a Eurozinc e outras grandes empresas estrangeiras) tudo isto enfeitado como se de um bolo se tratasse; é a história dos 2 e 2. Se for para receber são 22, se for para pagar são apenas 4; o 2º tipo "damos-lhe de calcanhar", aquilo que sempre quisemos mas nunca conseguimos! O que é isso para os portugueses tão habituados a este estado de coisas desde D. Afonso Henriques? Diria que esta 2ª categoria não existe para Portugal. É denegada, negada, recalcada (não, não vou falar dos vinte e tal mecanismos de defesa do Ego (risos)). É só ouvir um 1º Ministro Português a abrir a cremalheira e concluir pelas suas palavras que nós temos tudo, nada nos faltou, falta ou faltará! Do 3º tipo também estamos safos! Integrarmo-nos nas boas economias? Espraiarmo-nos na evolução económica e sócio-cultural dos Países do Norte da Europa? Mas o que é isso!? Isso são golpes baixos de um escritorzeco checoslovaco adulterado por um Abade duma Ordem obscura! Esses países nem estão melhor que nós! – referiu Zézinho Sócrates ao jornal Gazeta do Sobreiro Perdido. Repare, enquanto eles têm um problema com o dinheiro, nós os Portugueses estamos livres disso! O nosso problema neste Portugal é o tempo! Sim! O tempo e não o dinheiro! Os Portugueses têm montes de tempo para gastar o muito pouco dinheiro que têm! Por isso como se depreende desta minha ilação – continuou Zé Sócrates - só temos de resolver o problema do tempo em excesso. E já começámos: aumentámos a idade da reforma e queremos e vamos aumentar o número de horas semanais de trabalho. Com muito menos tempo desocupado, os Portugueses não terão oportunidade para gastar os "chorudos" ordenados que o Estado e/ou as Empresas lhes pagam.

Nota do Autor: Contactado por mim, Milan Kundera referiu nunca ter desconfiado de que um livro seu pudesse ser tão esclarecedor acerca do funcionamento de um País (se os Geógrafos fazem o que fizeram os Astrónomos e redefinem os mínimos a cumprir para se ser um País, ficamos mesmo uma Província da União Europeia). Disse-me também em 1ª mão que fará sair uma edição especial para o Estado Português que até poderá vir a ser psicografada pelo célebre medium alentejano "O Dadinho do Outro Mundo". O Maquiavel é que se lixou de vez em Portugal. A malta quer lá saber do "Príncipe", queremos é rir e esquecer. É um título para Portugal e os Portugueses. Ou rimos e esquecemos ou choramos e deprimimos profundamente. Romanceamos a vida porque com esta realidade não vai dando para singrar sem romance, sem lirismo, e neste aspecto os Portugueses são mesmo artistas, por isso há obrigatoriamente em cada Luso um Romancista em potência. A insustentável leveza dos ordenados só é contrariada pelo insustentável peso dos impostos. Chamemos aqui o grande Oscar Wilde que nos dizia: "Só há duas tragédias na vida: uma é não ter o que se deseja; a outra é obtê-lo.".
Como nós não temos o que desejamos e obtemos o oposto do que queremos esta frase só se nos aplica na primeira tragédia "Wildeana". Pelo que se conclui que a vida dos Portugueses não tem duas tragédias, mas apenas uma. Ah! País de gente sortuda, de características únicas e pardacentas...

28.8.06

Abismo

A última medida "Pidesca" a que este Governo nos submeteu é de ficar a pensar se não estaremos a viver em 1949 ou carquejas. O Governo decretou que as nomeações para cargos do Estado, nomeadamente os tachos de acessores ministeriais e outros que tais, nos ficam vedadas ao nível do conhecimento. Porquê? Porque deixam de sair em Diário da República. E acabaram-se os escândalos com o excessivo número de nomeações, com os compadrios (já que não sabemos se o nomeado não é por acaso o futuro genro da pôrra do Ministro) e com os ordenados que estas inteligências iluminadas (só se for pela EDP) vão roubar ao Estado, a nós que fazemos os nossos descontos.
Que raio de sorte a nossa! Se a comunicação social (incluo aqui a Terra dos Blogues) não denunciasse estas situações aberrantes e que se constituem como verdadeiros atentados a nós cidadãos ordinários (no seu sentido primeiro, comuns), o Governo não se veria na obrigatoriedade de nos cercear o acesso a essa informação; por outro lado, se a comunicação social calasse estas verdadeiras afrontas, por certo que a situação atingiria limites do "arco da velha". Até estou a ver o periquito ou o hamster do filho do ministro com cargos de acessores. De novo o velho e esfarrapado por excesso de uso, "preso por ter cão e preso por não o ter". Só que a partir de agora a atenção do cidadão sai reforçada porque é de calcular que este tipo de nomeações atinjam nos tempos vindouros números que bradam aos céus.
Este é o País da Teoria, dos planos completos ou incompletos, das intenções marcadas pela falta de acções, das medidas urgentes metidas na gaveta porque o dinheiro faz falta para aquilo que não é nem de longe o mais importante. Os nossos direitos minguam a olho nu, os nossos deveres aumentam para que haja uma espécie de compensação. Dá vontade de emigrar para Plutão que ficou a saber há pouco tempo que já não é um planeta (será que o dito se importa com isso?), mas sim um planeta anão, sem direito a figurar na lista dos planetas que constituem o sistema solar. Isto não vos lembra algo? Sim! Certo! Nós somos o Plutão da U.E., estamos lá, todos sabem que estamos lá, mas nem contamos porque somos anões e assim permaneceremos enquanto vigorarem estas mentalidades minorcas, estes Governos improdutivos, esta cegueira e desinteresse por tudo o que nos pode levar à lista dos que contam! Assim, Plutão amigo, os Portugueses estão contigo. Porque é que não nos geminamos com Plutão? As similaridades são tantas! Tornemo-lo no nosso estandarte, no nosso exemplo. Ah! Plutão do nosso descontentamento. Se Shakespeare fosse vivo talvez não tivesse falado no Inverno do nosso descontentamento. Se Camões cá andasse por certo diria: "Mudam-se os tempos, permanecem as não-vontades" ou ainda o "Perdigão perdeu a pena" seria "Portugal perdeu a cena".

23.8.06

PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DO PAX iNTRATIBUS

Posted by Picasa Desenho: José Tendinites



Hoje, 23 de Agosto de 2006 perfaz um ano que dei origem a este Blog. Tenho tentado ao longo deste período abordar diversos temas que considerei com algum interesse. O resultado foi bastante satisfatório, devo confessar. Também através dele me comecei a interessar pela "Terra dos Blogs" onde conheci vários escribas de mérito, cujos nomes não cito aqui para evitar cometer injustiças por mero esquecimento.
Comecei impulsionado pelo Celtibérix. De início foi um pouco difícil definir o meu próprio estilo, a tendência era sempre a de copiar o estilo deste ou daquele escriba, mas lá fomos aos tombos e hoje movimento-me dentro do que escrevo sentindo-me Eu ou Mim (para os defensores de que o Eu é que lixa isto tudo). Abordei as Religiões, a Política, a Poesia, o Humor, etc. Hoje tenho os meus leitores fiéis como todos nós habitantes da Terra dos Blogues, os temos. Fui recuperar um grande poeta e amigo com quem tenho a satisfação de partilhar amizade e com o qual não tinha contactos há quase 3 anos. Designa-me ele benevolamente, "primus inter pares" (primeiro entre iguais) e atribui-me no seu Blog o título de Dom Francisco de Beja. É caso para dizer que há pessoas boas (risos) e ele é uma delas.
Conheço pessoalmente alguns dos Bloguenses que me lêem, uns melhor, outros apenas de "vista". E claro, existem aqueles que nem faço a menor ideia de quem são, o que nem tem grande importância.
Como calculam e sendo eu um membro do Clero Cenobita não deixei de ter alguns problemas com os meus superiores, mas lá tenho conseguido dar a volta ao assunto. Recebi uns convites para me tornar Monge Tibetano, é verdade que se viaja mais e ganha-se muito dinheiro em seminários, conferências, retiros, etc, etc.. Uma das razões porque não aceitei foi porque não me deixavam ter um Blogue!
Chega de Prosa e venham lá os parabéns dos meus colegas e amigos.
Um vosso servo, sempre ao dispor: Abade Anacleto da Ordem dos Frades Chaparricanos.

19.8.06

Optimismo a Quanto Obrigas

Fonte da Foto: UEBA

Depois de ter lido o meu 267º livro de Auto-ajuda decidi tornar-me um optimista a toda a prova por uns dias. Começada esta B.I. (Boa Intenção) sinto-me mais confiante na vida. A tal ponto que ainda acredito que a CMB vá resolver as trapalhadas do anterior executivo no que respeita ao trânsito citadino, que os funcionários serão valorizados pelo que são; também acredito no Aeroporto de Beja já no próximo ano, num enorme aumento do poder de compra dos Portugueses, na descida abrupta das taxas de juros, nos Bancos deixarem de nos escamotear o valor do Spread nos empréstimos que contraímos, no final dos incêndios, no cessar-fogo completo no Iraque, Afeganistão e Líbano. Também acredito que o Alentejo se vá tornar a mais rica província do País nos próximos 3 anos (e não nos 3000 como anteriormente cria). Creio num funcionamento óptimo da Piscina de Beja. O que é que vocês querem? Os livros de auto-ajuda tornam-me num mentecapto a 100% (o meu normal são os 85%). Ah! E também acredito que a Madonna ainda vai ser Beatificada pelo Bentinho XVI (ou pelo seu sucessor escolhido pela Opus Dei) y su Banda "La Opus Grey" (“A Obra Cinzenta”, nome do espanhol, latim e inglês, respectivamente). É tão bonito e parvo este estado de me sentir "tramôco" da cabeça. E tudo isto – perguntarão – apenas porque leste uns livros? Também, mas não só. Decidi entrar numa de optimista a todo o custo. E já me está custando tanta asneira escrita num só "post". Mas afinal de contas não é todos os dias que uma pessoa toma uma resolução destas. Há que fazer sacrifícios para podermos ser optimistas, ou pelo menos, para pensarmos positivamente quando vivemos neste País.
Pensava que a frase “Penso, logo existo” tinha sido criada pelo Descartes como nos ensinam no liceu. Bom, não foi. Bastantes séculos antes já Santo Agostinho (Bispo de Hipona e Doutor da Igreja) afirmava: “Penso, logo Deus existe” “mea culpa, mea máxima culpa). No Portugal actual quase se torna mais própria a frase “Penso neste Governo, logo desisto”.


 
Free Web Site Counter
Free Counter